terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

AVERSÃO À IGREJA?


FATO 1: Há alguns anos, por conta do trabalho, fui a uma cidade do nordeste brasileiro, onde morei durante um tempo. Feliz por retornar àquele lugar, fui à igreja onde me congreguei, servi, liderei, pastoreei e comunguei com minha família cristã por um período considerável. Revi irmãos e abracei amigos de longa data, o que alegrou imensamente o meu coração. Porém, qual não foi minha surpresa quando o pastor presidente daquela igreja me chamou após o culto para conversar. Depois de “dar uma volta” na conversa, certamente para ganhar tempo, disse-me que, infelizmente, não poderia permitir que eu estivesse pregando nas igrejas daquele campo devido a motivos de, digamos, “incompatibilidade ministerial”. Isso, apesar de estar ligado à mesma denominação, mas em uma cidade de outro estado.

FATO 2: Recentemente, passei por uma cidade do Centro-Oeste. Lá, visitei a igreja onde servi durante anos. Como de costume, inundei meu coração de satisfação ao rever irmãos e amigos da caminhada eclesiástica e ministerial. Inclusive, fui convidado para ministrar a Palavra de Deus em duas igrejas, o que prontamente aceitei, marcando aquelas felizes datas em minha agenda pastoral. Novamente fui surpreendido ao chegar aos meus ouvidos que a liderança daquele ministério não “gostaria” que eu pregasse em suas igrejas, desta feita, sem motivo aparente.

Apesar do tempo que separa as duas situações (aproximadamente nove anos), o que salta aos olhos é a postura idêntica das duas lideranças em, praticamente, de forma velada, inibir o exercício daquela que é a função precípua da Igreja: ser um ambiente de cura, uma comunidade terapêutica, onde pessoas feridas, desiludidas, com a alma e as emoções em pedaços podem obter bálsamo para as suas feridas e frustrações.

Por isso perguntei há alguns dias atrás: o que as palavras comunhão, tristeza, frustração, promessas, verdade, igreja e religiosidade têm em comum?

Infelizmente, essas palavras estão bastante em evidência quando se trata da realidade das igrejas na atualidade.

Entendo agora porque tantas pessoas têm aversão às igrejas, pois as procuram como lugar de refúgio, de alento para suas vidas, um ambiente propício à comunhão com gente como elas. Porém, são entristecidas por promessas e expectativas frustradas, já que falta a vivência da verdade do evangelho de Cristo Jesus na prática, saindo dos discursos para o cotidiano.

Isso evidencia a religiosidade que impera atualmente nas cercanias evangélicas, estimulando o lançamento de vários livros para abordar o assunto: Feridos em nome de Deus (Marília de Camargo César), O Cristão Ateu (Craig Groeschel), Os Sem-Igreja (Nelson Bomilcar), só para citar alguns, os quais versam sobre uma prática que se alastrou quase que generalizadamente por várias denominações protestantes, históricas, pentecostais e neopentecostais em suas megaigrejas que se transformaram em verdadeiros impérios, trazendo poder e influência à liderança.

O poder não deveria ser um problema, mas sim a forma como se lida com ele. E esse poder tem “subido à cabeça” de diversos líderes que regem suas igrejas, conforme a linguagem de Nelson Bomilcar (Os Sem-Igreja), “de forma policialesca”, de modo ditatorial, reprimindo e tiranizando os membros de sua família espiritual, usando como justificativa a já desgastada e quase mal falada “cobertura espiritual”. Uso uma expressão de minha autoria, cunhada pela observação e experiência de alguns anos: “terrorismo eclesiástico”. Ouvi hoje algo a respeito do poder nas igrejas: “o poder não gera a corrupção, ele a revela”. Por meio do poder, descobre-se o caráter da liderança. E mais: com o poder destaca-se ainda mais o desejo de que a igreja se transforme numa instituição em detrimento do organismo que deve ser como Corpo de Cristo.

E é aí que há esperança. No Corpo de Cristo! Um Corpo vivo que, apesar do tempo, das perseguições e do sofrimento, foi instalado na terra como meio de dissipação das trevas, cujos agentes de transformação do mundo, por meio da ação graciosa e poderosa do Espírito Santo, somos nós, membros desse Corpo: a Igreja.

Mas esse será assunto para a minha próxima abordagem: A IGREJA COMO ESPERANÇA NA PÓS-MODERNIDADE.

Pense nisso. Deus te abençoe!